quinta-feira, 20 de março de 2014

O Santo e a Porca



Esta obra, datada de 1957, retrata basicamente o conflito entre o materialismo e a fé. Ariano Suassuna, com sua maestria em criar histórias irreverentes e de profundidade moral é o autor da obra.
 
Três mulheres apaixonadas procuram resolver suas questões amorosas, encaminhando o andamento de seus possíveis casamentos, enquanto o patriarca da família de duas dessas mulheres divide-se, alucinadamente, entre sua devoção por Santo Antonio e sua avareza, consolidada em uma porca de madeira cheia de dinheiro dentro, herdada de seu avô. O apego à porca aumentou desde o falecimento de sua esposa, a quem devotava imenso amor e dependência emocional. Há também a questão de sua filha, com quem pretende casar com um homem de posses que lhes garanta o futuro.

A confusão se instala pela constante desconfiança de Eurico, dono da porca, sobre todos os outros frequentadores de sua casa. Ele fica sempre à espreita de flagrar alguém furtando seu dinheiro. Além deste fato, Caroba, uma das pessoas que trabalha em sua casa, com sua astúcia e boa vontade, cria toda uma situação para que os casais enamorados possam se juntar sem que haja escândalos perante a sociedade e nem desgostos sentimentais.
 
No final da trama Eurico descobre que de fato foi furtado e, desolado, cai em desespero. Graças à astúcia de Caroba e à contribuição de todos os outros, os entraves que impediam que os casais ficassem juntos foram eliminados. O sumiço da porca pouco depois também foi solucionado e, absorto em sua avareza, Eurico nem havia se dado conta de que todo o dinheiro que havia lá de nada mais valia, pois fora substituído ao longo dos anos. Irredutível, Eurico permanece preso ao seu apego pelo objeto, e embora todos em torno dele terem tentado dissuadi-lo de permanecer só e juntar-se a uma grande família que se formava, optou por permanecer sozinho, dividindo-se entre as conversas com Santo Antonio e as lamúrias acerca do fato de ter uma porca de pouca valia para lhe garantir a tão sonhada velhice tranquila.

A história nos remete ao quanto frequentemente nos preocupamos com questões secundárias ao nosso bem-estar e deixamos de desfrutar o que a vida tem de melhor a nos oferecer. Uma velhice tranquila seria muito mais efetiva estando rodeado pela família, com seu sustento garantido - já que o noivo de sua filha era filho de um fazendeiro possuidor de muitas terras, do que sozinho e preso a o que lhe resta de material.

Levando essa história para a vida de cada um de nós, dentro de uma comparação, certamente seremos capazes de perceber que nossa vida continua, apesar das "porcas", dos "santos" e das situações do passado que insistimos em nos devotar cega e continuamente. Qual é a nossa verdadeira riqueza?

segunda-feira, 17 de março de 2014

Jacinta



O que leva uma pessoa a enfrentar as mais terríveis adversidades e seguir adiante? Será um ideal, uma teimosia, uma tolice? Ou será um apelo desesperado da consciência, clamando para ser levada em consideração na hora de se encarar a vida? Seja como for, esta foi a opção de Jacinta, magistralmente interpretada por Andrea Beltrão, que esteve em cartaz no SESC Vila Mariana.
 
Eu, como atual estudante de teatro, pude perceber a diferença de assistir a uma peça vendo o ator como alguém distante, dono de um sonho que também é meu, e como colega de trabalho, alguém que compartilha dos mesmos desafios e deleites do ofício de ser.
 
Sim, o parágrafo acima termina com a palavra “ser”, pois quando se busca preencher a essência, escutando e seguindo a consciência, simplesmente se é e nenhum adjetivo pseudo-complementar poderia concluir de fato tal afirmação.
 
Persistir, ir adiante, enfrentar os traumas, os fantasmas e as tormentas do dia a dia é um trabalho para cada um de nós: diretores de nossas próprias peças, condutores de nossas próprias vidas.