Esta obra, datada de 1957, retrata basicamente o conflito entre o materialismo e a fé. Ariano Suassuna, com sua maestria em criar histórias irreverentes e de profundidade moral é o autor da obra.
Três mulheres apaixonadas procuram resolver suas questões
amorosas, encaminhando o andamento de seus possíveis casamentos, enquanto o
patriarca da família de duas dessas mulheres divide-se, alucinadamente, entre
sua devoção por Santo Antonio e sua avareza, consolidada em uma porca de
madeira cheia de dinheiro dentro, herdada de seu avô. O apego à porca aumentou
desde o falecimento de sua esposa, a quem devotava imenso amor e dependência
emocional. Há também a questão de sua filha, com quem pretende casar com um
homem de posses que lhes garanta o futuro.
A confusão se instala pela constante desconfiança de Eurico,
dono da porca, sobre todos os outros frequentadores de sua casa. Ele fica
sempre à espreita de flagrar alguém furtando seu dinheiro. Além deste fato,
Caroba, uma das pessoas que trabalha em sua casa, com sua astúcia e
boa vontade, cria toda uma situação para que os casais enamorados possam se
juntar sem que haja escândalos perante a sociedade e nem desgostos sentimentais.
No final da trama Eurico descobre que de fato foi furtado e,
desolado, cai em desespero. Graças à astúcia de Caroba e à contribuição de
todos os outros, os entraves que impediam que os casais ficassem juntos foram
eliminados. O sumiço da porca pouco depois também foi solucionado e, absorto em
sua avareza, Eurico nem havia se dado conta de que todo o dinheiro que havia lá
de nada mais valia, pois fora substituído ao longo dos anos. Irredutível,
Eurico permanece preso ao seu apego pelo objeto, e embora todos em torno dele
terem tentado dissuadi-lo de permanecer só e juntar-se a uma grande família que
se formava, optou por permanecer sozinho, dividindo-se entre as conversas com
Santo Antonio e as lamúrias acerca do fato de ter uma porca de pouca valia para
lhe garantir a tão sonhada velhice tranquila.
A história nos remete ao quanto frequentemente nos
preocupamos com questões secundárias ao nosso bem-estar e deixamos de desfrutar
o que a vida tem de melhor a nos oferecer. Uma velhice tranquila seria muito mais
efetiva estando rodeado pela família, com seu sustento garantido - já que o
noivo de sua filha era filho de um fazendeiro possuidor de muitas terras, do
que sozinho e preso a o que lhe resta de material.
Levando essa história para a vida de cada um de nós, dentro
de uma comparação, certamente seremos capazes de perceber que nossa vida
continua, apesar das "porcas", dos "santos" e das situações
do passado que insistimos em nos devotar cega e continuamente. Qual é a nossa
verdadeira riqueza?