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Comemoração do primeiro aniversário do Curupira Moto Clube: membros oficiais, convidados e plateia compartilhando o espaço: festa pacífica e aberta ao público, ao som de muito rock n' roll. |
Tempos atrás morei em um bairro tranquilo: a paisagem
variava entre mercearia, quitanda, alguns mercadinhos, igreja, sapateiro, lojas
que só são abertas após as 9h. Tudo muito pacato. Mas certamente o local que
mais me chamou à atenção nos últimos tempos foi uma adega. Não pelos produtos
em si nem mesmo pela decoração característica, mas em princípio pela...
digamos... prestação de serviços.
A adega do Mario, como é conhecida por moradores do bairro,
é também sede do Curupira Moto Clube (CMC) que, nascido da idealização do
presidente Caio José de Oliveira, completou no último dia 25 seu primeiro
aniversário.
Dois dias após o evento alusivo a essa data, estive na sede
do Clube – local que visitei timidamente pela primeira vez há seis meses, sob o
verdadeiro pretexto (diga-se) de comprar água – e conversei com alguns de seus
integrantes, entre eles o próprio presidente. Durante a entrevista, que fluiu
como um verdadeiro bate-papo, foram abordados diversos aspectos, desde a origem
dos moto clubes até o futuro do próprio Curupira.
É comum confundir motoqueiros com motociclistas, pois a
diferença básica entre os dois é que o motoqueiro geralmente utiliza a
motocicleta como meio de trabalho e a pressão que há sobre sua atividade
profissional acaba por prejudicar sua rotina e até mesmo a própria saúde do
condutor e, como numa espécie de efeito dominó, o estresse do dia-a-dia, aliado
a outros fatores sociais, refletem em seu comportamento, caracterizando-o como
uma pessoa difícil de lidar. Desunião e falta de espírito de equipe contribuem
para se enquadrar a esse perfil, contrário ao do motociclista que, a par das normas
da estrada, respeita-as e desfruta de seu lazer de maneira consciente e
saudável.
Em 1948 foi fundado o Hells Angels Motorcycle Club (HAMC),
nos Estados Unidos, nome inspirado em esquadras existentes nas duas Grandes
Guerras, mais conhecidas como Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Os
integrantes, a princípio, estavam associados a crimes como tráfico de drogas,
extorsão e roubo de mercadorias, frequentemente utilizando o uso ilegítimo de
violência. Crânios reais, utilizados para adornar as motocicletas, ajudavam a
criar uma imagem desafiadora e feroz diante da sociedade.
“O crânio ou a caveira em si também estão associados à
naturalidade em lidar com a morte, sendo esta nada além de uma passagem entre
este orbe e outros”, observa Wallace Andrade, também conhecido como Carvão
entre os membros do CMC.
O nome Curupira é inspirado na personagem do folclore
brasileiro, protetor da fauna e da flora, astuto e bem-humorado. E por falar em
bom humor, neste momento da entrevista um dos integrantes brinca: “Saci seria
um nome complicado, porque seria inviável pilotar uma moto com um pé só”. Outro
argumento para a escolha deste nome foi a americanização que atualmente se
observa Brasil afora. Nesse ponto de vista, verifica-se também uma maneira que
os integrantes do Clube utilizaram para valorizar a cultura do país.
O Curupira Moto Clube é estruturado seguindo princípios de
companheirismo e civilidade, baseados nos códigos da estrada. Além dessa
organização, o próprio colete sinaliza a hierarquia: cada uma das figuras
costuradas nele funciona como uma verdadeira insígnia, às quais os integrantes
são capazes de se reconhecer dentro da cadeia de comando apenas pelo estímulo
visual. Os membros são convidados a fazer parte da equipe e o convite somente é
realizado após uma verdadeira investigação social acerca do candidato:
comportamento, disposição e proatividade são alguns dos critérios utilizados na
hora de se aprovar um novo membro da equipe, que só recebe insígnias novas após
períodos predeterminados de tempo, conforme é submetido a novas provas de
conduta e sociabilização.
Tanto empenho em assegurar a boa imagem do Curupira
inevitavelmente acarretaria em projetos de expansão de benfeitorias. Logo, o
Clube marca presença em ações beneficentes de amparo a idosos e auxílio a
crianças portadoras do vírus HIV. “Muitas outras ações estão por aí”, garante o
presidente do CMC.
Vida longa ao Curupira!
Petisco do dia: Não Pare na Pista. "Ê,
Raulzito!"